Reflexões Lixadas: as arte de persistir, não conseguir e desistir

maio 09, 2020


Durante muitos anos ouvi (julgo que ouvimos todos) para nunca desistirmos. Na verdade poucos "desiste" ouvi durante a minha vida. As pessoas podem pensá-lo, fazer esgares de superioridade ou desdenhar pelas costas mas, raramente nos dizem "desiste". É precisa tanta coragem para desistir, como para dizer na cara de alguém para o fazer. Claro, a não ser naqueles programas de entretenimento musical.

Ao longo dos último dois anos tenho tentado a minha sorte. Escrevo ao ponto de achar patética. Penso. Desmonto e monto a mesma ideia de todas as formas possíveis. Agarro em ideias e dou-lhes outro sentido. Tenho andado a experimentar e a tentar. Envio algumas coisas, coisas que nunca mostrei a ninguém, das quais me orgulho, para concursos. Vejo e revejo. Leio de baixo para cima.
Crescem-me borboletas na barriga. Aquele personagem. Aquela cena. Aquela paisagem. A meio do processo morro um pouco. Penso que está tudo mal. Fico indecisa quanto ao lugar de uma virgula no texto. Parece-me depois que a virgula sou eu.

Espero uma semana. Espero um mês. E nunca vem. Imagino júris a ler as letras que costurei. Imagino-os a passar à frente. Sabem como sou, visualizo muito. Sentados numa cadeira, com um ar aborrecido, um casaco de lã aos ombros e os óculos na ponta do nariz. "    ". Nem sequer gera pensamento.

E é estúpido. Porque desde os 15 anos que tenho um tesouro que partilhei com milhões de pessoas. Está ali, parado e de alguma forma sou incapaz de lhe tocar. É tão precioso, é como se me pudesse tocar. Me pudesse ver com 15 anos, a descobrir que gostava de escrever. E quando penso nisso, nesse jackpot fico com medo de o empurrar para a estrada. De ouvir tudo aquilo que me magoava quando era mais nova. Já não me estaria a defender, estaria a defender uma Sara diferente, uma que não sabia ainda o que era.

E nunca me passa pela cabeça desistir. Enterro-me noutros escritos. Penso que consigo fazer algo tão bom como o que fiz antes. Penso que consigo escrever ventos e colher tempestades. Acabo por escrever ventos e colher lufadas de ar.

Li esta semana um livro que falava em desistir. Como é corajoso desistir de um projeto que não nos dá nada em troca, mas que nos aquece o coração. Sempre pensei nisso, mas moldada no quadrado de "não desistir" nunca soube muito bem encontra termos para construir esta linha de pensamento.

É corajoso desistir, sempre achei. Deixarmos uma coisa que amamos para trás, seja isso um projeto, um amigo ou namorado.

Achei inspiradores os termos em que ela colocou a desistência. Não tenciono desistir, mas é bom saber que neste livro que li, encontrei palavras para os sentimentos que não soube explicar durante muito tempo. Que tudo bem em tentar, mas que também está tudo em desistir.

Falei aqui sobre a minha escrita, neste contexto porque, é a coisa mais importante do mundo para o meu funcionamento e ainda não sou uma escritora publicada. Ainda é cedo para desistir, há seis anos que escrevo e isso só se pode traduzir num inicio da viagem. Mas quero deixar isto aqui, para que se um dia, estiver indecisa entre desistir e continuar, saber que ambas as opções fazem de mim alguém que tentou e isso é importante.

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