Lost in translation

novembro 02, 2019

A primeira vez que vi um filme de Sofia Coppola estava numa aula de história, nessa altura fiz com que passassem o filme para trás. Queria que toda a gente visse o all star roxo. Vi aquele filme de Maria Antonieta pelo menos mais quatro vezes. Ontem, antes de ir dormir vi Lost In Translation e senti que tinha sonhado em japonês...sem entender uma palavra.


Aqui estão as coisas que eu sabia sobre este filme: homem e wiskey, mulher numa peruca cor de rosa e Japão. Tudo cortesia do video "Lost In Japan" de Shawn Mendes. 
Aqui estão as coisas que sei agora: Bob, um ator norte americano de meia idade, está na cidade de Tóquio a gravar spots publicitários para uma marca de Wiskey. 
Bob está terrivelmente aborrecido num hotel que mais parece uma torre infinita de quartos e piscinas. Charlotte está no mesmo hotel, aborrecida porque o seu namorado está sempre a trabalhar. O que tem estes dois casos em comum? Sentem-se ambos perdidos numa lingua que não compreendem. 
À medida que começo a ver o o filme, percebo que o ritmo é lento e isso é agradável. De certa maneira este filme é uma cebola, e vai perdendo camadas, vagarosamente. Sentimos de perto a frustração dos personagens porque não percebemos nada do que lhes é dito, os únicos diálogos que contam a história são entre Charlotte, Bob e alguns tradutores. 
É terrivelmente melancólico e damos por nós, não tristes, mas quase vazios a ver o filme, o que de certa forma parece o objetivo, afinal de contas só quando Charlotte e Bob começam a sua aventura pela cidade é que os vemos sorrir. 
Seria de esperar que alguma coisa acontecesse entre eles, afinal de contas há uma energia romântica no ar, mas o mais curioso e aquilo que deixa o filme num tom tão tenso, e ao mesmo tempo tão pouco saturado, é que eles nunca se envolvem. Há esta cena particular, em que estão deitados na cama a falar e só fazem isso. Hoje estamos tão habituados a cenas de sexo só porque sim, que é quase uma lufada de ar fresco ver duas pessoas deitadas numa cama a falar. 
Charlotte e Bob tem provavelmente mais de vinte anos de diferença, mas partilham ambos a melancolia de estarem sozinhos e perdidos numa lingua que ninguém entende e para eles, tudo se perde nos contornos disso. Charl
otte parte um dedo e não percebe nada do que o médico diz e Bob começa a "des detestar" o Japão por causa dela. Sabem o que é que me parece? Aquilo sempre digo: mais vale dois perdidos felizes, do que um infeliz. 
E claro, a terceira pessoa do filme. É engraçado porque sempre que as cenas são gravadas dentro do hotel, ou num estúdio de fotografia, não damos pela câmara, mas assim que são cenas exteriores, lá está ela. Aquela pessoa que podemos visualizar tão bem, a segurar a câmara enquanto passeiam por Tóquio. A passar uma ponte, a filmar a rua, as montanhas, os postes de eletricidade.
Honestamente, para mim, este filme é sobre estarmos sozinhos, mas totalmente sozinhos, não percebermos nada do que nos dizem, e de repente, encontrarmos alguém único, único porque está ali e fala a nossa lingua, mas mais que isso fala connosco mais profundamente do que as palavras que são ditas. Bob e Charlotte podiam não ser almas gémeas, mas naquele momento eram tudo um para o outro.
No final do filme, quando Bob parte de volta aos Estados Unidos diz algo ao ouvido de Charlotte, e quem não percebe, ou ouve somos nós. E pronto, voltam a perder-se na multidão.

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