Li os livros de "365 dias" para que mais ninguém precise de o fazer

junho 13, 2020

Que sabor é este debaixo da minha língua? Humm, será o da amargura? É bem capaz.

Antes de eu me soltar neste penhasco de auto-censura, aviso que se alguém tem interesse em ler os livros, escolha agora continuar a ler por sua conta e risco porque... contém spoilers, no entanto, conhecendo a maioria de vocês...boa leitura.


Para que fique claro, eu não li o primeiro livro por razões óbvias (vi o filme) e os dois livros que dão continuidade e final à trilogia foram lidos rapidamente e na diagonal, primeiro porque li uma tradução cedida pelo único pdf que encontrei (cortesia, tenha a certeza, do google tradutor) e depois porque, além dos clichês que referi no episódio do podcast, o último livro deu-me a volta ao estômago. 
O filme deixa-nos pendurados algures entre a morte de Laura e o desespero de Massimo, bla, bla, bla a Laura não morre. Fica com o seu "querido" Massimo, que adora o facto de ela estar grávida. Casam-se, grande casamento, carros, casas, sexo e zangas, aviões e guess what? Isso mesmo, mais raptos.
A razão pela qual estou a falar sobre isto, é que depois do podcast e, de ter recomendado verem o filme, se gostassem deste tipo de filmes/livros é: qualquer coisa não estava a bater certo. 
Publiquei o podcast e senti-me desassossegada, como se alguma coisa estivesse a falhar e isso deixou-me tão tensa, que tive que ler os livros para perceber.
É que esta autora, Blanka Lipinska é confusa, para o bem e para o mal. A dada a altura, é como se ela própria se estivesse a debater sobre se a personagem masculina, pode ser verdadeiramente boa, sendo um daquele tipo de pessoa da qual o comum ser humano foge. A dada altura ela está sim, a brincar com o público, uma forma engraçada de nos enganar e levar a acreditar numa história de amor (isto se tiverem acreditado).
E isto fez-me lembrar uma série que vi, "The Fall" onde, as intenções do homem, que tinha como vicio matar mulheres indefesas, foram logo colocadas na mesa e por isso, a sua aparência fisica, status ou dinheiro pouco importavam para a história, mas no caso de "365 dias" a intenção é precisamente a oposta, distrair o espectador do lado maligno de Massimo, muito como já vimos naquela série da Netflix "YOU". 
Não nos vamos esquecer, de que isto é uma história, é a liberdade criativa de alguém para contar algo que sente vontade de partilhar, mas pelo facto de ser um filme de "mulheres" para "mulheres", foi tomado de ponta, o que também não impede que até para mim, tenha sido difícil ler o final.
Da forma que eu vejo, esta equação no inicio coloca-se assim:
-estamos fartos de ver filmes onde 40 pessoas são mortas talvez em 20 segundos. O que não falta para ai são filmes "masculinos" de "ação" onde todo o tipo de atrocidades são feitas com mulheres, tratadas como condimentos secundários numa injeção de testosterona maluca. Só que ninguém diz nada porque são filmes típicos, que existem há décadas. Quem não se consegue lembrar de um filme onde o mau da fita anda sempre com uma miúda gira no braço e depois a mata por alguma razão? Porque ela o trai com o herói, porque tenta escapar, etc, etc...
A segunda parte desta equação é mais ou menos assim:
-e se alguém, farto de ver estas mulheres, que são tratadas como adereços em tantas histórias predominantemente masculinas, escrevesse um livro sobre elas? Foi isso que Lipinska fez.
Deixem-me dizer-vos, que clichês à parte (porque há muitos, até pelas páginas todas que passei à frente), esta é a história dessas mulheres, que servem de adereços a homens, só que desta vez a ação não se centra no mafioso e sim na esposa. 
A máscara de Massimo, acaba por cair porque a personalidade dele é demasiado violenta, se alguma vez ele gostou de Laura, a dada altura torna-se impossível dizer, no livro ele comporta-se muito mais como um louco do que no filme. Consumo de drogas, implantes localizadores.... o assassino revela-se. 
O tamanho da monstruosidade de Massimo, é como uma pequena bola de neve e, quando Laura percebe que não o consegue conter é obrigada a fugir, tantas vezes, quantas dedos tem. 
E depois é um pouco a história que já conhecemos, ele pede desculpa e ela tenta, tenta mesmo, mas o coração dela, mais do que a cabeça já perceberam que alguma coisa está errada. 
Pede um divórcio, ela tenta fugir dele e quanto mais ela foge mais horríveis se tornam os jogos dele. No final ele deixa-a ir, porque a humilhou e tratou tão desumanamente que há pouco mais dela que ele possa arruinar.
Tal e qual como naqueles filmes de ação onde as mulheres são descartadas como lixo, também Massimo no final se ri e vai embora sem que nenhuma consequência lhe seja aplicada. 
O revoltante nos livros e no filme suponho, é que no final há constantemente uma nota de gozo, como se aquele personagem irritante se estivesse sempre rir de Laura.
Existe uma passagem do livro, em que Laura o acusa de ter morto o seu cachorrinho (esta foi uma das piores partes de se ler, passei à frente) e ele diz que não, que provavelmente foi um segurança, com fome de vingança por ela ter deixado o patrão. 
É nesta última mentira que Laura bate no fundo do poço e Massimo dispara os últimos cartuchos de loucura, prendendo-a dias a fio num quarto, em casa. No final, ele diz-lhe que se consegue matar pessoas, porque raio, não conseguiria matar um animal? 
E foi com esta frase que eu percebi, que a autora esteve, durante o último livro a gozar com a cara de quem achou o filme em alguma parte romântico, que um relacionamento que começa de forma tão abusiva, não pode nunca terminar bem. 
Massimo criou um teatro onde Laura era a peça chave, colocava-a em situações de risco para a poder salvar, fez dela a locomotiva dramática da sua vida, como desculpa para abusar e mal tratar os outros e no final, admitiu-o. E cumpriu a sua promessa, só um ano depois de a ter raptado é que a deixou ir.
Laura não morre, e as suas sequelas psicológicas são de difícil avaliação porque, o livro acaba abruptamente, mas ela termina com quem quis e tem uma linda filha. 
Este final, a juntar a uma mólhada de capítulos que são pão para encher açordas, é como um rebuçado docinho para quem possa ter ficado zangado, afinal de contas foi tudo um grande equivoco, isto não é, nem nunca foi um romance. 
Resumindo e falando do ponto de vista da história (já que fiz o desfavor a mim mesma de ler), gostava que o final tivesse sido uma Laura que conseguisse entregar o Massimo à justiça ou que, pelo menos o tivesse feito sofrer, da mesma forma que ele fez com ela. O idiota continua a chafurdar numa poça de cocaína, prostitutas e a matar pessoas, só porque sim.
Concluindo? Sou uma hipócrita. Gostei e detestei o livro. Gostei porque deu liberdade a esta mulher, Blanka Lipinska, de contar uma história cheia de ação, perseguições e comportamentos desvairados, como já vimos em muitos filmes, geralmente feitos para machões; e detestei porque não é o meu tipo de livro, parece que a mesma coisa está sempre a acontecer, só que com sinónimos diferentes (guilty I know!), do ponto de vista da leitura é extremamente cansativo e fiquei com uma dor de cabeça gigante.
Concluindo aquilo que disse no podcast, este tipo de livros, para mim, é como os desenhos a decorar histórias, há medida que crescemos deixam de fazer muito sentido, mas sei que há público para este tipo de género e ainda bem. É por isso que se escreve, para dar vida algo que muitas vezes, mas pessoas querem ler. Ou não. Há milhões de livros, não se trata de um tamanho que serve toda a gente, mas de pessoas diferentes, com opiniões e gostos diferentes. 

Então pronto, não sei que continuação terão os filmes, mas li os livros, para que mais ninguém passe pela angustia de achar que isto se tratava de romance e para que fique claro, a Netflix comprou o filme por isso mesmo, uma versão PG ainda mais 18 da série "YOU"








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