1Q84 Haruki Murakami - Opinião

setembro 19, 2020

Eu gosto de livros simples. Passam-me ao lado, livros onde o pretensiosnismo do autor, é mais agudo que o das personagens. Há algo de extraordinário num escritor que consegue, simultaneamente, descrever o complexo de forma natural. Murakami, apresenta-nos um mundo com duas luas e nós não lhe duvidamos da palavra. 


"19Q4 Volume I" empurra-nos para o Japão, onde no ano 1984 somos apresentados a duas personagens. Aomame, uma mulher fatal, no sentido mais lato da palavra (é uma assassina profissional) e Tengo, um professor de matemática e editor/escritor nas horas vagas. Capitulo sim, capitulo não, somos confrontados com estas duas realidades, muito destintas. 
Há medida que o livro avança, estes dois antagonistas vão se aproximando, naquilo que só podemos prever, ser uma colisão fatal.
É estranho começar a ler este livro, porque primeiro: é muito bem escrito, sentimos que estamos dentro do livro desde o primeiro momento e isso é raro. Muito. Já o disse aqui muitas vezes, mas a pior parte de um livro é o começo. Murakami possui o dom de nos familiarizar com tudo, de uma forma tão leve, que nem damos por ela. E segundo: o facto de termos a narração de dois personagens faz-nos constantemente ansiar sempre por um diferente. 
É de louvar aos céus, a narração do ponto de vista de um homem e de uma mulher, ser escrita pela mesma pessoas e não darmos por um pingo de descriminação. A história leva-nos pelos pormenores mais sórdidos do ser humano, sobre o poder e a crueldade de matar outro igual. Sobre quão longe, vai a sede de controlo e poder pelo outro. 
Este livro não é só sobre o Japão, ou sobre a vida de Tengo ou Aomame, é sobre os nós, pessoas, e até onde somos capazes de ir quando perdemos o controlo das situações onde nos encontramos.
Mas é engraçado, como ao inicio pensamos "mas porque raio estamos a ler sobre o professor/escritor e uma assassina?". Não estamos. 
É interessante, como tanto do livro gira em torno da violência contra a mulher. Aomame não mata homens "normais", mata homens que infernizam a vida de mulheres, que as espancam, que as violam, que as fazem querer por termo à própria vida. Tengo, sem saber, acaba por encontrar uma dessas mulheres, jovem e tão calada por fora, como talvez por dentro. Esta jovem parece ser a chave de tudo aquilo que vamos lendo. Sendo isso verdade ou ficção. Porque podem estes dois personagens, que vivem aparentemente no mesmo mundo, estar a caminhar em direção ao mesmo? 
Descobri aquilo que se passava com Tengo e Aomame no ultimo capitulo, percebi como se relacionavam e porque andava eu a ler sobre eles, alternadamente, um no ano de 1984 e outro no ano de 1Q84 e isso só confirmou aquilo que percebi no inicio do livro. Murakami é um génio. 
Este, não é tanto um livro que se pode explicar, nem tão pouco opinar. É um livro que precisa de ser lido, porque nenhum surpresa é tão boa, como a de perceber o jogo o que jogamos, ao longo das páginas deste primeiro volume. 

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