Reflexões Lixadas: Construir o mundo a partir de casa

abril 18, 2020

É interessante a posição em que fomos colocados neste último mês e meio. Como já devo ter partilhado algumas vezes, por aqui ou mesmo no instagram, este ano na faculdade descobri dinâmicas diferentes em que, mesmo não sendo fantástica, me fazem querer....fazer, só por si. 
Contactos, negas a entrevistas, palmilhar Lisboa de mochila e tripé ás costas e com uma fome de entregar tudo na dead line danada. 



É engraçada a nossa forma de crescer, de nos tornarmos a nossa própria pessoa e a maneira como isso nos faz ganhar novas borboletas na barriga e este salto que dei, a nível de personalidade (muito em culpa pelo mundo universitário) foi agora colocado em pausa. Estou parada, a flutuar. Estamos todos.
Aos poucos, toda a gente está a tentar descongelar  este tempo, uma perfeita analogia aos filmes de hora e meia que nos parecem nunca mais acabar. As escolas, os transportes, os bancos, os supermercados...
Fomos remendando aqui e ali. Esticando um braço para segurar aquela parede e empurrando com a perna outra, prestes a desmoronar.
Temos de aprender a flutuar nisto e é frustrante. Hoje durante uma aula em que nos pediram temas para reportagens apeteceu-me mandar tudo ás couves. Estava enervada, porque só me conseguia mexer dentro desta realidade e era complicado e não era o que eu tinha planeado... e...e...e
Não estou muito melhor agora, mas sossega-me aquilo que ouvi "pelo menos estão ocupados", e enquanto escrevo, percebo que preciso de aceitar as minhas limitações (prévias) e as que agora surgem (novas portanto... foi só para não deixar o parênteses vazio, porque vocês perceberam).
Acho que o maior desafio de tudo o que se passa à nossa volta, é não estarmos constantemente presos a uma coisa que já não temos. Como antes fazíamos planos para o futuro, agora protejamos num passado"futuro".
Durante a minha vida, sempre tive sonhos recorrentes, mas um fica-me sempre impresso na memória. Uma guerra. Aliás, contei isto à minha avó, enquanto trocávamos impressões de sonhos uma com a outra.
Disse-lhe que quando tinha este sonho, estava sempre no quintal e que passavam aviões a largar bombas por cima de nós. E desde que sou pequena (porque fui crescendo com o sonho), escondi-me sempre na despensa. Arrombavam a porta, a mesma que o meu avô construiu e descobriam-me sempre. Ouvia as botas a bater no chão com força.
Quando tinha esse sonho, acordava a pensar "ainda bem que não é verdade" e esse sentido de mentira, de falta de verdade do sonho... faz-me agora pensar no que estamos a viver.
É verdade que não andam soldados de botas pesadas a esmagarem-me a porta de casa, mas é quase como se, quando falam do vírus na televisão, eu o imaginasse a rir.
A dificuldade não está no pânico, está na reinvenção e na saudade que nos rasga o peito quando pensamos no mundo que queríamos para nós.
É que agora, é preciso achar piada nas coisas que fazemos em casa, e tornar esse mundo, por muito pequeno que seja, em tudo aquilo que ambicionamos. Pelo menos por enquanto.


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