A Ninfa Inconstante de Guillermo Cabrera Infante | Opinião
abril 05, 2020
Talvez o titulo deste post devesse ser "o livro que não consegui terminar" mas, achei que assim estaria a ser muito tendenciosa. De qualquer forma, o facto de o esclarecer nas primeiras linhas equilibra as coisas.
Comecei a ler este livro com uma expectativa enorme e talvez esse tenha sido o primeiro erro, mas com uma premissa tão boa, qualquer um cairia na mesma armadilha.
Fala-se de uma jovem rapariga de 16 anos e, de um plano ardiloso que seduz e manipula um critico de cinema, tudo isto com um cenário de cortar a respiração; Havana.
O autor, pelo que consta na contra capa é conhecido pelos seus jogos de palavras, referencias incontáveis e "sentido de humor único".
O problema logo começou no prólogo, onde o autor nos tenta convencer de que somos demasiado estúpidos para entender o que ele está a dizer: este livro pode ser, ou não ser, sobre uma história pessoal minha, mas é mais provável que seja.
E talvez o problema seja meu, que não tenho paciência para ler a mesma coisa escrita de quatro maneiras diferentes, mas tudo isso se perdoa no inicio. Aliás geralmente perdoamos a falta de ação no inicio de um bom livro, sabemos todos como é difícil, em meia dúzia de páginas criar um ambiente familiar ao leitor.
Mas isto arrasta-se quando já conhecemos Estelita, que tem 15 anos, mas fala e comporta-se como uma mulher muito mais velha e, esse critico de cinema que fica por nomear (provavelmente por ser o próprio autor a falar de uma história de infidelidade com uma menor).
A dinâmica do casal nunca é romântica (o que até pode ser bom) e há um profundo desinteresse de ambas as partes. Mesmo quando o narrador, esse tal critico sem nome, quer elogiar Estela, acaba por a insultar (ela tem tornozelos gordos aparentemente).
O livro é uma constante provocação a tudo aquilo que achamos que faz um romance. Estela nada tem em comum com este homem, que com as suas mil referencias literárias e cinematográficas mais parece falar para uma parede, do que para a jovem por quem está obcecado.
Estela é uma personagem intragável e arrogante, e o seu companheiro desinteressante e soberbo da forma mais estúpida possível.
E o livro é isto, um arrastar de quatro formas diferentes de dizer a mesma coisa, trocadilhos e uma falta de interesse tão grande em personagens tão lisos, que nada resta para nos cativar, nem a maravilhosa cidade de Havana.
A inteligência do autor e a sua língua afiada perdem-se num enredo tão sem graça, que comecei a ficar mal disposta só de ter que pegar no livro.
Nunca deixo um livro a meio, mesmo quando não me agradam tanto, mas recuso-me a sofrer para ler, e este livro, que eu esperava difícil, tornou-se insuportável.
ps- Eu sei que este é um autor aclamado e que qualidades devem ser-lhe reconhecidas, no entanto este não é o tipo de escrita/leitura com o qual me identifico.
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