Cem Anos de Solidão
março 16, 2020
É difícil colocar em palavras o inicio e o fim do mundo, e é um verdadeiro tesouro, encontrar um livro que condense quase dois séculos de história familiar em pouco mais de 350 páginas. Gabriel García Marquez preenche finalmente o seu devido lugar na sombra que até hoje se encontrava sem corpo na minha estante.
Autor:Gabriel García Marquez
Preço:10,00€ € (na wook)
Páginas: 375
Cem anos de solidão é um livro que está para a humanidade, como a batalha de Aljubarrota está para os portugueses. Nascemos a saber sobre isso e morremos com a certeza de que o deixamos como o encontrámos: com os outros.
Assim, torna-se difícil opinar sobre um livro que já era considerado uma obra mundial, antes mesmo de ter nascido.
Existem várias teorias que cobrem o nascimento de Cem Anos de Solidão, mas a história que mais me adoçou o imaginário foi, não a de como nasceu, mas a de como foi se foi criando e ao longo do tempo espalhando, até anteceder o rufar dos tambores que o esperavam, tão ansioso que estava o mundo por o ter. Deixo-vos aqui o link para lerem.
A primeira coisa que me espantou mal abri o livro, foi a árvore genealógica que antecede a leitura, que já agora é começada completamente ás escuras se levarmos em conta a contra-capa. E comecei a passar os dedos pela árvore e a reparar nos nomes que se repetem de geração para geração e nas anomalias incestuosas que nos fazem, à medida que lemos, prever que tipo de desgraças de vão suceder.
Temos aqui sete gerações de uma mesma família, à qual podemos associar o inicio de um pequeno mundo: Macondo.
José Arcadio e a mulher Ursula Iguáran fundam, com mais algumas famílias, esta terra onde a magia se mistura com a realidade, onde existem tapetes voadores e a alquimia é uma verdade, difícil, mas verosímil e isso, fez-me questionar que tipo de género estaria eu a ler: realismo mágico.
E no principio viajamos entre a ténue linha do que é verdade e não é, até decidirmos que é melhor tomar como certa aquela magia, para o bem da história e isso é algo que o autor faz muito bem, mergulha-nos devagar no enredo mítico das primeiras gerações, para depois, com o mesmo vagar, nos começar a molhar com a realidade, até que de repente estamos embrenhados num realismo cru e confuso que nos deixa a pairar no pensamento uma nostalgia da inocência das primeiras gerações.
Para além da maneira como Marquez nos manuseia ao longo da história, sem nunca perder o controlo nem dos personagens, nem dos leitores, uma das coisas mais incríveis da sua maneira de contar uma história, reside na facilidade com que, sem nunca descorar os pormenores nos conta tanto, em tão pouco papel.
O meu livro tem 378 páginas, onde morrem e nascem 7 gerações de uma família, onde há guerras, o aparecimento da religião, o colonialismo, aparecimento do combóio, capitalismo, liberais, pestes e inundações que duram anos e mesmo assim, o autor ainda tem a delicadeza, quase ternurenta de escrever algumas palavras na sua forma diminutiva. O livro nunca perde o folgo, está tudo tão condensado de uma forma tão livre que não damos pelo tempo passar e quando alguém morre, é uma surpresa, mesmo no caso de Úrsula, que viveu 122 anos que a mim me pareceram 250.
Claro que não são só coisas maravilhosas: é preciso ganhar-se ritmo e ceder-se aos caprichos inicias do autor, que não nos deixa esquecer que a magia existe, até que o admitimos e depois desaparece mas sem realmente nunca deixar de acontecer e entender que os nossos personagens favoritos não vão viver para sempre.
Pessoalmente, eu não sei se toda a gente que começou este livro o terminou, mas sei que vale o esforço porque nunca li uma obra tão bem escrita, com um enredo tão complexo, mas que apesar disso, nunca deixou de ser fascinante.
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