Era uma vez em Hollywood || Opinião

setembro 08, 2019


Um filme que mistura a realidade e a ficção no sentido mais bonito da palavra. Nunca o termo “California Dreamin” me pareceu tão efémero e verídico ao mesmo tempo. Se o curso da história tivesse uma segunda opção, eu gostava que fosse esta.



Custa-me um bocado falar deste filme, visto que há quase uma religião dedicada a Tarantino.
É que eu, em toda a minha ignorância sabia quem ele era, mas nunca tinha posto os olhos num filme seu. E não sei se isso é bom, ou mau, porque depois de ver “Era uma vez em Hollywood” vou viver descansada, de que foi tudo aquilo de que o meu espirito precisava para ser apaziguado.
Dois dias antes de ir ao cinema vê-lo com uma verdadeira perita no assunto, tinha tido a seguinte reflexão enquanto lavava os dentes:
Porque é que nunca vemos filmes ou séries que não dependem de um clímax? Somos sempre apanhados por um murro no estômago, um nó na garganta, e um bater de pé ansioso. Constantemente à espera que os bons vençam os maus? Onde é que está uma história pelo mero prazer da realidade? Onde não se passa nada, mas da forma mais realista possível? As pessoas têm esta tendência a achar que as suas vidas são uma seca pegada, porque a vivem, mas a verdade é que vivemos recheados de surpresas, muitas vezes não temos é olhos, nem coração para as perceber. Aquilo que mais me chateia num filme é não poder ver o “depois” do final. Eu quero aquele pedaço de narrativa que vive na ideia do roteirista.
“Era uma vez em Hollywood” é a Califórnia rotineira de 1969. São atores, duplos e realizadores no seu pequeno mundo normal, a andarem para cá e para lá em carros extravagantes. É Sharon Tate a carregar a sua pequena Chanel até ao cinema, enquanto, como qualquer jovem atriz, tenta perceber que impacto tem o seu trabalho nos outros.
Por nenhum momento há a inveja daquilo que possuem, mas sim daquilo que lhes passa à frente dos olhos.
O filme, que fala do ator Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e do seu duplo, Cliff Booth (Brad Pitt) dá-nos um olhar intimista sobre aquilo que é realmente ser-se um ator. Geralmente, quando vemos um filme pensamos sobre o personagem, mas se repetirmos a dose começamos a ver o ator, e isso é místico, olhar-lhe para a pessoa e não para a personagem. Muitos dos filmes que se propõem a estudar a vida de atores funcionam como biografias. Em "Era uma vez em Hollywood” o “ser-se” ator torna-se palpável. Para alguém como eu, que pouco sabe de cinema, mas que, como espetadora é amante das histórias, o filme é uma verdadeira aragem fresca, numa tarde sufocante de verão.
Um filme sem filtros, que não se preocupa com as palavras que usa, nem com aquilo que retrata. Fez-me voltar quinze anos atrás, quando me sentava no chão da carpete a brincar e ia espreitando os filmes de cowboy que o meu pai via, e que pareciam não ter fim.
Um detalhe excecional do filme, e que torna tudo, no sentido mais completo da palavra, melhor, é a música. Especialmente a cena onde toca “California Dreamin”.



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