O conto de Tília

janeiro 03, 2019





O tempo estava nebulado, Emídio sentia-se a morrer de fome enquanto trilhava o caminho de erva alta, suada pelo orvalho do começo da manha. Sozinho, de boina na cabeça e o pescoço encolhido dentro de um casaco demasiado pequeno para a sua altura, dirigia-se para a praça da aldeia mais próxima à sua. 

A mãe tinha-o mandado fazer um favor a uma vizinha que estava acamada. Era preciso que apanhasse folhas de tília da arvore que se encolhia ao lado da igreja. Sempre que lá chegava ficava impressionado com a eletricidade que abastecia o novo telefone publico da aldeia.

Olhou para a arvore e passou por um cão adormecido debaixo de um banco de mármore. Agarrou-se à arvore e trepou. Já o tinha feito, em arvores muito mais altas, pinheiros e eucaliptos com tantos metros que 10 corpos seus seriam pouco para medir. Tirou da algibeira um saquinho que a mãe lhe havia dado e que foi enchendo com as pequenas folhas verdes, pensando na comida que o esperava em casa. 

O dono do cão viu primeiro, como o pé da criança não encontrou o galho da arvore que o tinha ajudado a erguer-se, e como o corpo pequeno e franzino se prostrou no chão em cima de alguma pedras afiadas, como um 2º cristo coberto de folhas verdes, que se escapavam do saco. Quando se aproximou, os olhos do rapazinho refletiam a neblina da manhã que assolava a aldeia. O coitadinho tinha morrido de barriga vazia.

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