#Askmonth 3 || Em que momento é que percebeste que escrever era o teu caminho?

agosto 10, 2018




Acho que esse é o tipo de coisa que não percebes. É como quando estás a crescer e de repente já não queres brincar com bonecas ou carrinhos. É tão gradual que de repente paras e pensas sobre isso.

Quando era mais nova sentia sempre que não tinha “nada”. Quando digo nada, refiro-me a alguma coisa a que fosse excecionalmente boa. Ao contrário do que as pessoas possam pensar eu não a melhor a escrever, não era a melhor a fazer contas, não era a melhor a desenhar, nem a melhor a desporto. Devem ter sido muitoooo poucos os professores que olharam para mim e pensaram “esta pode saber fazer qualquer coisa bem”. Vamos ser bem realistas e admitir que os professores têm sempre uns três queridinhos e são esses que vão ser médicos, presidentes e salvar o planeta de um cometa. Os outros são os tipos que tiram macacos do nariz e fazem barulho. Eu fazia barulho, tirar macacos do nariz sempre foi nojento para mim.

O que quero dizer é que não fossem em casa a minha mãe dizer-me, “uau que desenho bonito” ou “uau tens mesmo jeito para ler em voz alta” ou “ caramba tens cá uma imaginação”, eu provavelmente nem teria tentado escrever.

Quando comecei a escrever era péssima, dava muitos erros, e o enredo estava todo confuso, mas eu tinha a certeza de que gostava muito de escrever. Dava-me uma ferramenta para me esquecer do que se passava à minha volta e permitia-me ter controlo de um mundo que eu criei.

Lembro-me que quando cheguei com o livro a um milhão de leituras pensei que estava tudo feito. 

Deve ter sido assim até ao final do secundário. Este ano, quando precisei de escrever uma reportagem e uma entrevista senti que todos aqueles anos de treino, tinham finalmente dado frutos.  A minha professora não me disse que eu escrevia muito bem, pelo menos a entrevista onde não tens muito por onde dar asas à imaginação, mas na reportagem? Senti que queria fazer aquilo vezes e vezes sem conta. Eu não quero escrever só histórias, quero escrever qualquer coisa que os outros gostem de ler. 

Adoro escrever sobre coisas aleatórias, adoro escrever qualquer coisa que me deixe os sentimentos à flor da pele.

Eu sempre tive medo de não encontrar o meu caminho, ou pelo menos algo que gostasse de fazer e sinto que encontrei. Não é a minha única paixão, gostava de aperfeiçoar os meus desenhos, gostava de ser ilustradora, é todo um mundo de coisas que gostava de fazer. No entanto escrever deve ser uma das coisas que mais preenche e de certa forma, mesmo que eu não ganhe a minha vida com isso, saber que encontrei aquilo que amo dá-me uma grande paz de espirito. 

Senão fosse pelos meus pais não sei se alguma vez teria chegado à conclusão de que sou uma pessoa que gosta de escrever, ler e desenhar, por isso se tivesse que dar um conselho à Sara que vai ser mãe daqui a uns anos é “por favor não te esqueças de os incentivar a desenhar, a ler e a escrever, a cair de joelhos no chão e a levantarem-se”. Acho que hoje em dia os pais estão tão presos à escola e às boas notas que acabam por projetar as frustrações nos filhos. Eu não quero isso. A minha educação foi tão rica em livros que provavelmente a minha imaginação ficou do tamanho de um elefante, e é esse tipo de coisa que eu desejo ao mundo. Sonhar e imaginar, colocar isso no papel, seja de que forma for dá uma sensação de preenchimento fantástica.

Escrever não nasce connosco, escrever aprende-se, treina-se a aperfeiçoa-se, se é isso que alguém quer fazer não desista à primeira, nem à décima. Melhor. Não desista nunca.

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