Pessoas Normais de Sally Ronney | Opinião

agosto 08, 2019


Pela primeira vez, fui tirando notas enquanto lia o livro e isso ajudou-me a compreender a evolução do meu pensamento, enquanto me ia embrenhando cada vez mais na história. Pessoas normais é exatamente isso , uma evolução de narrativa muito longa, encaixada em 248 páginas.

Livro: Pessoas Normais
Autora: Sally Ronney
Preço: 15, 75€ (na wook), o preço normal em outras livrarias é 17,50€
Páginas: 248
ISBN: 9789896419363

Nas palavras da contracapa, Connell e Marianne cresceram na mesma cidade, numa Irlanda conservadora; mas são separados pelo destino fatídico do estrato social e claro, de popularidade do secundário. 
Enquanto Connell, tem tudo para ser o típico clichê americano (irlandês no caso), jogador de futebol, lindo e muito inteligente; Marianne é considerada estranha e passa os dias sozinhas, a olhar de cima para os outros. 
Quando as vidas de ambos se cruzam, a atração é fatal, no entanto, ao contrário de um mero caso de paixão louca, cresce entre eles uma amizade, que ao longo de quase cinco anos, nunca se consegue perder, por muito que tentem.
Eu podia continuar a descrever a história, mas penso que passa ao lado do ponto principal: este livro não é nada daquilo que parece, e já lá chego.
É uma adaptação inicial complicada à escrita de Sally, principalmente porque não há separação do que é uma fala entre personagens e a descrição de uma cena. Para além disso, as discrições têm uma dosagem diferente. São descrições muito mais psicológicas do que do espaço em si. Há a sensação de que estamos permanentemente a observar a vida intima de alguém.
No entanto, embora a ausência da descrição do espaço físico me tenha chateado um pouco ao inicio, a autora tem uma queda para aquilo que é “inútil” em termos de acrescento às cenas, o que é extremamente encantador. Pelo menos para mim, que me encontrava à procura de segundas explicações em tudo, e as quais ela estava mais do disposta a dar-me.
Voltando ao ponto em que menciono que nada é o que parece; a verdade é que, é um livro que acompanha o crescimento dos personagens, literalmente. Os capítulos são medidos por “um mês depois” ou “seis meses depois”, no entanto nunca ficamos com a sensação de ter perdido nada do que se passou. Por isso, talvez a forma leviana e clichê do inicio seja tão importante. 
Quando temos 17 anos, vemos o mundo de uma forma mais simplista, um tanto cor de rosa, o mundo resume-se a uma pequena aspiração universitária e ao mundo que é o secundário, e há medida que envelhecemos, percebemos que aquilo não passou de uma bolha. Foi isso que aconteceu aos personagens 
À medida que crescem e os anos se passam o livro torna-se mais sombrio, mais real. As revelações de personalidade de ambos, mas especialmente de Marianne tornam-se mais chocantes. Há um momento em que Marianne se pergunta, se talvez as diferentes fases da sua vida não sejam, a mesma triste repetição, vezes e vezes sem conta. Nessa altura, no entanto, senti que o se estava a passar, era que o seu entendimento do passado, estava a ser feito pelo seu “eu” adulto, o que torna aquilo que outrora foi triste, realmente deprimente.
Fiquei surpreendida, pela quantidade de tópicos de discussão atual que o livro toca, desde violência domestica, relações abusivas a depressão e suicídio. Estes são temas importantes, no entanto ainda bem que o livro não é caracterizado pelos mesmos, são antes, abordados de forma natural.
A perspicácia, capacidade construção e análise da economia e política irlandesa, são igualmente bem argumentados, o que é refrescante.
Para ser sincera, a forma fluida e rítmica com que o livro é escrito, esconde muito bem a sua complexidade, e embora nunca tenhamos que parar, para refletir no que estamos a ler, sabemos que é profundo.
Um excelente livro. Foi a primeira vez, em muito tempo, que não me pareceu que estivesse a ler, antes, era como se estivesse a espreitar, de uma forma muito coscuvilheira para vidas simplesmente...normais.


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